UFBA forma primeira aluna com Síndrome de Down

Felicidade, amor, desafio e superação. Tudo isso está envolvido na trajetória de Letícia Azevedo Santana Silva, 27, portadora de síndrome de Down, que se forma hoje em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) de Vitória da Conquista. Letícia é a primeira pessoa com Síndrome de Down a ter um diploma universitário na história da Ufba. Para a formanda, a sensação é de realização. Segundo ela, a paixão pela dança teve início ainda criança, quando já ensaiava as suas primeiras coreografias.
 
“Sempre gostei de dançar, é a minha paixão. Hoje estou me sentindo realizada. Em primeiro lugar, sou grata a Deus pelo dom da vida, me dando saúde, força, sabedoria e inteligência na minha trajetória acadêmica. Me sinto muito feliz por ser pioneira, a primeira pessoa com Down a concluir o curso de Licenciatura em Dança”, disse ela, que se forma pela modalidade de Ensino à Distância (EAD) após quatro anos de curso, que se encerrará com chave de ouro hoje, às 19h, com a sua graduação. O momento será transmitido pelo YouTube, no canal Escola de Dança - UFBA ou no link youtube.com/watch?v=WwcxBHRnklM (clique aqui!).
 
Depois disso, Lety - como prefere ser chamada - vai se voltar para o mercado de trabalho. “É a minha expectativa. Foram muitos desafios para a realização desse sonho, e agora quero entrar no mercado”, diz. Segundo a sua mãe, Lindamar Azevedo Santana Silva, 66, professora da rede estadual, a relação de Letícia com a dança se intensificou na adolescência, quando ela começou a demonstrar o desejo de ter aulas de dança. “Sinto-me realizada, e de alma leve, por ter cumprido o meu papel como mãe e educadora de uma filha especial”, disse.
 
De acordo com ela, a trajetória de Letícia teve desafios e preconceitos, mas no caminho até a graduação contou com a importante participação da comunidade escolar, desde o ensino infantil até a universidade. “Ela sempre foi acolhida com muito amor por onde passou. Na universidade, colegas e professores deram apoio e suporte para a realização desse sonho”, diz.
 
O pai, Agripino Sá Silva, 77, é todo orgulho. “Ela decidiu que era isso que queria para a vida, e fez o vestibular. Estou muito orgulhoso. Vencemos obstáculos, desafios e preconceitos. Foi difícil, mas conseguimos”, avaliou.
 
A coordenadora do Colegiado de Licenciatura em Dança EAD da UFBA, Bel Souza, diz que a formatura de Letícia é um dos momentos mais importantes de sua carreira. Segundo ela, mesmo Letícia sendo uma aluna com deficiência intelectual e que por isso teria direito a um prazo estendido para se formar, ela está fazendo o curso em seu período regular. “Isso prova seu empenho e da sua família em fazer isso acontecer”, observa.
 
Para ela, a formatura da aluna é de uma importância enorme, principalmente por se tratar de uma instituição pública. “É muito importante que as pessoas com deficiência ocupem os locais que lhes são de direito como cidadãos. Ela fez o vestibular como todo mundo e passou pelo curso como todo mundo. Educação inclusiva é isso, oportunizar a experiência educacional para todos”, afirmou.
 
Notícia originalmente publicada pelo jornal A Tarde, em 13/08/2021.
Texto: Bruno Brito - sob supervisão de Hilcélia Falcão